top of page
Buscar
  • Patrícia Rios

CAMINHANTE NÃO HÁ CAMINHO


CAMINHANTE NÃO HÁ CAMINHO [1]

Tudo passa e tudo fica

Mas o nosso é passar

Passar fazendo caminhos

Caminhos sobre o mar

Nunca persegui a glória

Nem deixar na memória

dos homens minha canção

Eu amo os mundos sutis

Sem gravidade e gentis

Como bolhas de sabão

Gosto de vê-las pintar-se de sol e grená, voar

debaixo do céu azul, tremer subitamente e quebrar-se Nunca persegui a glória Caminhante, são tuas pegadas o caminho e nada mais Caminhante, não há caminho, se faz caminho ao andar Ao andar se faz caminho e ao voltar a vista atrás se vê a senda que nunca se há de voltar a pisar Caminhante não há caminho, senão sulcos no mar Há algum tempo neste lugar onde hoje os bosques se vestem de espinhos ouviu-se a voz de um poeta gritar “Caminhante não há caminho se faz caminho ao andar” Golpe a golpe, verso a verso Morreu o poeta longe do lar cobre-lhe o pó de um país vizinho Ao afastar-se viram-no chorar “Caminhante não há caminho, se faz caminho ao andar…” Golpe a golpe, verso a verso Quando o pintassilgo não pode cantar Quando o poeta é um peregrino Quando de nada nos serve rezar “Caminhante não há caminho, se faz caminho ao andar…” Golpe a golpe, verso a verso.

“Caminante no hay camino” é uma de minhas poesias preferidas através da qual me permito o prazer de imaginar as bolhas de sabão, os caminhos no mar e talvez a brisa suave que acariciou o rosto de Machado enquanto ele fazia este poema nascer.

Quem ama poesia geralmente tem o hábito de buscar, não explicá-las, mas senti-las naquilo que está além das palavras. No pequeno espaço em branco, o vazio entre duas palavras ou da respiração de uma pausa, cabe um universo inteiro.

Aqui compartilho o excerto de uma análise que me pareceu bastante coerente:

“Em resumo Machado nos diz que cada pessoa há de encontrar o seu caminho “Caminhante não há caminho”, que terá que decidir-se a recorrê-lo, ainda com a incerteza do que acontecerá, e que não voltaremos a recorrer os caminhos já vivenciados. E em todo caso, ao final dos nossos dias ficarão as recordações do vivido (sulcos no mar)".


[1] Livre tradução de Patrícia Rios.

13 visualizações0 comentário

Posts recentes

Ver tudo
bottom of page