Voltar aos dezessete [1]
Letra: Violeta Parra
Voltar aos 17 depois de viver um século
É como decifrar sinais sem ser sábio competente
Voltar a ser de repente tão frágil como um segundo
Voltar a sentir profundo como um menino diante de Deus
Isso é o que sinto neste instante fecundo
Vai se envolvendo, envolvendo
Como no muro a hera
E vai brotando, brotando
Como o musgo na pedra
Como o musgo na pedra, ai sim, sim, sim
Meu passo retrocede quando o de vocês avança
O arco das alianças penetrou em meu ninho
Com todo seu colorido passeou por minhas veias
E até a dura corrente com a qual nos prende o destino
É como um diamante fino que ilumina minha alma serena
Vai se envolvendo, envolvendo
Como no muro a hera
E vai brotando, brotando
Como o musgo na pedra
Como o musgo na pedra, ai sim, sim, sim
O que pode o sentimento não pode o saber
Nem o mais claro proceder, nem o maior dos pensamentos
Tudo o muda num momento qual mago condescendente
Nos afasta docemente de rancores e violências
Só o amor com sua ciência nos torna tão inocentes
Vai se envolvendo, envolvendo
Como no muro a hera
E vai brotando, brotando
Como o musgo na pedra
Como o musgo na pedra, ai sim, sim, sim.
O amor é um turbilhão de pureza original
Até o feroz animal sussurra seu doce som
Detém os peregrinos, liberta os prisioneiros
O amor com seus esforços ao velho torna criança
E ao mal só o carinho o torna puro e sincero
Vai se envolvendo, envolvendo
Como no muro a hera
E vai brotando, brotando
Como o musgo na pedra
Como o musgo na pedra, ai sim, sim, sim.
De par em par a janela se abriu como por encanto
Entrou o amor com seu manto como uma fraca manhã
Ao som de sua bela Diana fez brotar o jasmim
Voando qual serafim ao céu lhe pôs brincos
Meus anos em dezessete os converteu o querubim.
A chilena Violeta Parra (1917- 1967) e a argentina Mercedes Sosa (1935-2009) são parte de um reduzido número de artistas que deixaram um vazio na América Latina. Ambas merecem ter seu repertório musical revisitado e biografias estudadas como parte da nossa memória histórica coletiva.
Nesse sentido, vale a pena conferir o filme “Violeta foi para o céu”, uma obra biográfica que sob a direção de Andrés Wood ganhou dois prêmios: como melhor filme no Sundance Film Festival 2012 e também o prêmio do público em Toulouse no Latin American Film Festival.
Em um domingo de latinidade exalando pelos poros, nada melhor que ouvir e assistir uma joia da década de 80: Mercedes Sosa, Caetano Veloso, Milton Nascimento, Gal Costa e Chico Buarque de Holanda dividindo o palco e a interpretação de “Volver a los diecisiete”.
[1] Minha livre tradução.